A ampla falta de interesse pelo universo subjetivo no estilo de vida predominante em nossa sociedade causa uma enorme confusão (quando não gera uma completa ignorância) do significado de palavras como mente, subconsciente, inconsciente, inconsciente coletivo, psique, metacognição e consciência. Utilizadas inclusive de maneira intercambiável, a confusão é tão gigantesca que alguns intelectuais chegam a afirmar que a consciência simplesmente não existe. E aqui nós somos testemunhas do ápice da insanidade ao constatar que existem consciências que negam a si próprias.
Parte da remediação desse enorme problema poderia começar pelo mapeamento da consciência. Longe de ser um exercício definitivo, a proposta deste texto seria jogar um pouco de luz na escuridão de nosso caos interior mais imediato. Lembrando também que não se tratam de conceitos estanques com fronteiras muito bem delimitadas, constituindo aspectos mais fluídicos que se intercalam uns com os outros em suas fronteiras flexíveis e porosas, de forma análoga aos processos orgânicos. Aliás, como parte indistinguível da natureza, nossa consciência deve ser encarada como parte integrante do reino natural, assim como é normalmente considerado o nosso corpo físico.
Mente, consciência e psique são normalmente utilizadas como sinônimos. Na minha classificação, eu considerarei os dois últimos conceitos como sinônimos e excluirei o primeiro.
Começando pela definição de consciência, esta seria o espaço dentro do qual toda experiência acontece. Ou seja, havendo a sensação de experiência, há sempre a condição de consciência. E até onde conseguimos abarcar com as nossas capacidades cerebrais de primatas recém-descidos das árvores, tudo o que existe está dentro do campo da consciência: seja ela cósmica ou individual, com suas infinitas variações entre o macro e o micro. Neste sentido, consciência seria sinônimo de psique, sendo talvez o psiquiatra suíço Carl Jung a personalidade que mais tenha utilizado esse último termo com esse significado específico.
A mente, por outro lado, seria um dos estados da consciência, o qual é caracterizado pelo constante fluxo de pensamentos que nada mais são do que excitações voluntárias ou involuntárias da consciência em relação às percepções de passado (memória) e de futuro (expectativas) no espaço tridimensional. É possível ter consciência sem pensar em absolutamente nada por alguns momentos, sendo tal estado passível de ser alcançado em práticas de meditação. Ou seja, o ato de não pensar em nada também é um tipo de experiência, sendo também a prova cabal de que nós não somos os nossos pensamentos com os quais nós tanto nos identificamos.
O subconsciente poderia ser caracterizado como as experiências em piloto automático, as quais ocorrem sem que a nossa atenção esteja focada nessas atividades como respirar, andar, piscar, beber água, dirigir um automóvel, etc. Enquanto tais atividades acontecem, a mente pode estar pensando algo completamente diferente sem que o processo subjacente seja comprometido. Sabemos que estamos passando por tais experiências, mas possuímos condições de fazer mais de duas coisas ao mesmo tempo sem comprometer o andamento de algumas atividades díspares naquele momento.
O inconsciente seria outro tipo de condição, sem a camada da reflexão por cima do que está de fato acontecendo. Sonhos, por exemplo, se encaixam nessa classificação, sendo contextos nos quais há uma identificação com o personagem dentro do sonho, mas geralmente não temos a noção de que estamos sonhando e do significado de toda a experiência do ponto de vista autorreflexivo (ou metacognitivo). Mas muito de nosso comportamental em estado de vigília possui suas origens na esfera inconsciente. Ou seja: tudo o que ocorre dentro do espectro da inconsciência influencia as nossas ações e reações, mas devido a nossa falta de autorreflexão, passam despercebidas por nós. Comportamentos repetitivos, explosivos ou que contradizem aquilo que pensamos e percebemos são apenas alguns exemplos desse estado.
O inconsciente coletivo foi um conceito criado por Carl Jung ao constatar certos padrões e regularidades em sonhos, visões e intuições de muitas pessoas, sem que essas pudessem estar em contato umas com as outras de forma a influenciar mutuamente suas experiências. Seria o campo mais antigo e profundo da consciência transpessoal, o aspecto mais amplo do qual seríamos derivações dissociadas individualizadas.
A metacognição ou a autorreflexão seria um estado caracterizado pela experiência, a exata noção de que estamos passando pela experiência e o questionamento sobre a natureza daquele contexto da forma mais ampla e minuciosa possível. É exatamente o contrário do que ocorre quando estamos sonhando: não somente experimentamos algo, como criamos uma segunda, uma terceira ou dezenas de outras camadas de reflexão por cima daquilo que está sendo experimentado em um dado momento. Enquanto Jung chamava o que eu estou chamando de consciência neste texto de psique, a consciência para ele era aquilo que nós chamamos hoje em dia de metacognição.
Ao que tudo indica, a metacognição seria o estado de mente mais adaptado à nossa condição de seres encarnados, constituindo a meta da consciência cósmica, a qual percebeu em algum momento ao longo da evolução da vida (metabolismo), que seria vantajoso passar por experiências e refletir a respeito delas como forma de diminuir o sofrimento e assim maximizar a experiência de aprendizado. E nada faz mais sentido do que explorar todos os aspectos do universo subjetivo conhecido e pensar profundamente a respeito deles, sendo todo esse esforço uma forma de trazer níveis cada vez maiores de metacognição para a nossa vida.
Marcio Cruz é terapeuta de regressão de memória formado pelo IMMTER - Instituto Mineiro de Medicina e Terapias e pós-graduando em Neurociências e Comportamento pela PUCRS. Saiba mais sobre Marcio Cruz na seção O Terapeuta. Terapia por Reintegração de Memórias - TRM Terapia alternativa na cidade de Jundiaí, SP.
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