Mais arrogante do que achar que já sabemos qual é o sentido da vida, é a certeza absoluta de que a vida não possui sentido algum. Como primatas recém-descidos das árvores, seria muito inocente de nossa parte achar que já estaríamos em condições de decretar que a vida é vazia de sentido e de que tudo não passa de um mero acidente. Com cinco sentidos desenvolvidos de acordo com as precárias condições de sobrevivência na Terra e um intelecto recém emergido de um sono instintivo de 3.5 milhões de anos, como teríamos as condições cognitivas de afirmar que não há sentido algum no universo?
Um olhar honesto para a nossa história nos obriga a concluir que o tempo de existência da civilização humana é um mero piscar de olhos (quando comparada com os conceitos de tempo cosmológico ou mesmo geológico daqui da Terra) e, por essa mesma razão, sempre esteve muito errada em relação à interpretação da realidade. E o que nos levaria a crer que a nossa geração estaria finalmente certa? Por que seríamos diferentes dos seres humanos que surgiram antes de nós? Não teriam os colonizadores europeus invadido o continente americano com esse mesmo tipo de convicção sobre aquilo que eram e sobre o que estavam fazendo? Como olhamos para esses colonizadores agora? E como as gerações seguintes nos enxergarão? A despeito do absurdo desenvolvimento que a ciência e a tecnologia proporcionaram para a qualidade de vida e para a ampliação do entendimento da realidade, seria de uma cegueira e de uma prepotência descomunal concluir que tais vantagens teriam permitido entender tudo o que seria passível de ser entendido em um universo paradoxalmente gigantesco e complexo. Não se engane: somos primatas bem-sucedidos e somos parte inseparável da natureza que nos criou, estando limitados pelas circunstâncias locais e pelo aparato sensorial/cognitivo que possuímos.
O estudo das ciências cognitivas em conjunto com a teoria dos jogos tem demonstrado que, mesmo localmente, nossos sentidos não evoluíram para ter acesso a tudo aquilo que existe ao nosso redor e sim para priorizar a nossa sobrevivência mais imediata. Se tivéssemos acesso a tudo, assim como ficamos perdidos no mundo moderno diante de um universo crescente de informações, teríamos sido dizimados ao longo da história, posto que não teríamos condições cerebrais de processamento de todos os dados disponíveis e seríamos presas fáceis para qualquer predador ou qualquer outra forma de ameaça devido à nossa paralisia diante de tantos estímulos.
E para ampliar enormemente as fronteiras de nossa própria ignorância, estamos encarcerados em um minúsculo planeta na periferia da Via Láctea, apenas uma entre outras bilhões de galáxias estimadas com um espaço inconcebível entre elas, sendo ridículo deduzir que estaríamos em condições de ter desenvolvido as capacidades necessárias para entender um universo tão gigantesco com base em um ecossistema tão específico, microscópico e claustrofóbico. Portanto, o que ainda restaria para ser compreendido seria algo realmente assustador. E cravar as nossas certezas no pouquíssimo que sabemos é uma atitude absurdamente arrogante, semelhante à um bebê que deduz que já compreendeu tudo sem ter sequer saído do berçário.
Expandindo essa lógica para planetas com civilizações muito mais velhas do que as nossas, quais desafios, aprendizados e graus de investimento em direção a níveis de consciência cada vez mais abrangentes poderiam ter ocorrido em relação ao entendimento do sentido da vida e do universo? Como isso poderia nos deixar muito mais humildes? De que forma tais exercícios de lógica poderiam nos trazer mais empolgação, esperança e conforto? E como a aceitação de nossa finitude poderia trazer, paradoxalmente, um sentido de contribuição de longo prazo para as gerações seguintes com vistas para a construção de um conhecimento muito maior sobre tudo?
Marcio Cruz é terapeuta de regressão de memória formado pelo IMMTER - Instituto Mineiro de Medicina e Terapias e pós-graduando em Neurociências e Comportamento pela PUCRS. Saiba mais sobre Marcio Cruz na seção O Terapeuta. Terapia por Reintegração de Memórias - TRM Terapia alternativa na cidade de Jundiaí, SP.
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