A realidade física pode ser exaustivamente descrita por números ou quantidades. Desde o uso corriqueiro de nossos cinco sentidos até os mais avançados recursos tecnológicos construídos para efetuar as mais precisas mensurações, a fisicalidade surge da mesma forma que o colapso da função de onda ocorre depois que a consciência do pesquisador intervém em um determinado sistema quântico.
E o problema aqui é da seguinte ordem: se o senso de fisicalidade o só surge depois que medimos a realidade com os nossos sentidos, qual seria a natureza daquilo que está sendo mensurado? Para um materialista, não existe a mínima possibilidade de haver qualquer coisa além da fronteira da matéria, fator que gera um beco sem saída em seu paradigma circular.
Porém, façamos aqui o seguinte exercício mental: se o universo físico pode ser exaustivamente descrito por números ou quantidades, existiriam outros aspectos da realidade que não poderiam ser mensurados por números? Se existissem fenômenos impossíveis de serem de serem descritos matematicamente, isso seria uma constatação lógica e robusta de que a realidade abrange também aspectos extrafísicos. E a resposta para esta pergunta é um retumbante sim! Afinal, todos os estados subjetivos da experiência humana se enquadram nesta categoria imensurável. Ou seja: Quanto mede um pensamento em metros? Qual seria o peso em quilos de um quadro de depressão? Quais são as coordenadas geográficas de uma emoção? Qual seria a altura em pés de uma intuição? Qual é a velocidade da empolgação em milhas? Qual seria a frequência em hertz de uma paixão?
Todos esses aspectos do universo subjetivo não podem ser definidos por quantidades físicas. Por consequência, os estados da experiência interior não são físicos; eles se encontram fora daquilo que denominamos de universo físico o tempo todo. Aliás, até os nossos sonhos, como fenômenos endógenos, violam a concepção corriqueira de espaço-tempo, haja visto que o contexto de sujeito/cenário dentro do sonho muitas vezes apresenta uma noção de tempo distorcida (de vez em quando, temos a sensação de ter sonhado por muitas horas em um espaço de tempo muito reduzido). Para um materialista, tais alegações seriam apenas parcialmente corretas, posto que o mundo subjetivo da mente humana estaria enclausurado dentro da caixa craniana como efeito secundário da interação de arranjos específicos da dinâmica cerebral.
Ocorre que inúmeras experiências de quase morte (EQM), o uso sistemático de substâncias psicodélicas com finalidades terapêuticas, o perigoso jogo do estrangulamento e a perda de massa cerebral em acidentes diversos demonstram que a radical diminuição ou mesmo a perda de atividade cerebral gera um correspondente incremento no nível de experiências ao invés da diminuição esperada pelos materialistas. Se, de acordo com o paradigma materialista, o cérebro é o órgão responsável pela geração de todas as experiências, por que a diminuição ou mesmo a ausência de qualquer atividade cerebral corresponde ao aumento da riqueza dessas experiências, ao ponto dos indivíduos relatarem que a sua noção de realidade em todas as condições supracitadas teria ficado muito mais forte do que a realidade experimentada em condições normais?
O idealismo metafísico, ramo da filosofia moderna, postula que única resposta para este paradoxo é a aceitação de que o universo físico é apenas a representação de uma realidade muito mais abrangente composta por estados transpessoais de consciência. E como o nosso acesso à essa realidade é totalmente parcial por questões evolutivas (se tivéssemos acesso a tudo o que existe ficaríamos paralisados pela absurda quantidade de estímulos), parte da extensão dessa realidade só é percebida de forma subjetiva através de pensamentos, emoções, sentimentos, sonhos, intuições, premonições, etc. Em outras palavras, a fisicalidade é apenas o resultado da mensuração dos sentidos de seu corpo, o qual constitui a porção mensurável de sua consciência individual que foi derivada por dissociação da grande consciência cósmica.
Marcio Cruz é terapeuta de regressão de memória formado pelo IMMTER - Instituto Mineiro de Medicina e Terapias e pós-graduando em Neurociências e Comportamento pela PUCRS. Saiba mais sobre Marcio Cruz na seção O Terapeuta. Terapia por Reintegração de Memórias - TRM Terapia alternativa na cidade de Jundiaí, SP.
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